Autor: Luciano Alves da Silva, graduação em Licenciatura em Letras, Uniasselvi
RESUMO
A diversidade linguística e regional pode ser encontrada em toda parte. Cada vez mais, nos dias
atuais, as pessoas fazem questão de trazer consigo seus valores de suas culturas expressas através
da música. É isso que vamos abordar nesta pesquisa, trazer opções para que se possa incluir a
música no planejamento de aula e mostrar que os educandos podem adquirir uma grande
bagagem de conhecimento quando estuda a língua regional e sua variação.
Palavras-chave: Música nordestina, música gaúcha, diversidade linguística.
1. INTRODUÇÃO
A partir dos estudos da Variação Linguística, proposto para esta etapa do curso, será
trabalhado a diversidade de termos existentes entre as regiões nordeste e sul do Brasil englobado
dentro da música regionalista. O objetivo principal é analisar uma grande variação de palavras da
língua falada e escrita em diferentes estados do país a fim de que possa ser possível reconhecer,
valorizar e diferenciar termos que tem o mesmo significado, porém que escreve-se de maneiras
diferentes, adequando-se ao dialeto da região em que os falantes se inserem. Alienado a isso, trazer
para debate questões centradas nas culturas regionais do país.
Os materiais e métodos utilizados na pesquisa em questão, serão através pesquisas
bibliográficas feitas em textos de letras de músicas que apresentam variações significativas de
vocábulos - como gírias - que estão adaptadas as culturas dos estados de origem e dão mais sentido
para as músicas afim de ser melhor aceita pela população local. Junto a isso, serão feitas
comparações de letras, afim de melhor identificar os termos existentes.
Para um melhor entendimento da proposta, serão formuladas duas perguntas que serão
respondidas no decorrer do trabalho: a) Como os professores desenvolvem suas aulas baseadas em
conteúdo funcional e interativo a partir da musicalidade regional? b) De que maneira os resultados
levantados por esta pesquisa, podem contribuir para o desenvolvimento de aulas mais lúdicas a
partir do tema destacado no presente trabalho?
O estudo que será realizado aqui, estará organizado da seguinte maneira afim de facilitar a localização das etapas do trabalho: 1) Introdução; 2) Fundamentação teórica; 3) Metodologia
utilizada dentro da sociolinguística; 4) Resultados alcançados a partir da pesquisa e; 5) Referências
utilizadas na elaboração deste trabalho. Na fundamentação teórica, será colocado a importância de
estudar a música na escola.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No Brasil, existem várias culturas que vieram trazidas dos mais diferentes lugares do globo
terrestre. Em virtude dessa grande variedade cultural é que se faz necessário estudar sobre os
ritmos musicais que conectam as pessoas: a música brasileira. A música, sobre tudo, é uma
identidade cultural que conta um pouco da história do povo que migrou de outras regiões do
planeta para o Brasil. Com o passar do tempo esses os ritmos musicais foram se renovando cada
vez mais a medida que diferentes povos chegavam no solo brasileiro. Todavia, as características
que formam o rimo brasileiro se mantiveram presentes em todas as melodias.
A música está presente em todos os lugares e nos dias atuais, de uma maneira mais
acessível, nos acompanha em todos os lugares da nossa casa, a caminho do trabalho, em festas e
também compõem a nossa trilha sonora durante as compras no supermercado. As pessoas
adquiriram um gosto pela música por isso ela é bem-aceite por muitos, isso se dá pelo fato das
pessoas se encontrarem nas suas letras. No mundo moderno no qual vivemos, este meio de
descontração agora está mais acessível e a um clique de distância. Se deparar com jovens
estudantes do ensino básico com os fones apostos já não é mais uma surpresa e é muito comum.
Por isso, eles são o exemplo perfeito do poder que a música tem de persuadir os seus ouvintes.
Visto que a música está presente também dentro das instituições de ensino, ela tem um
grande papel no currículo escolar sendo uma forma de facilitar a aprendizagem dos indivíduos,
abrindo espaço para trabalhar um conhecimento mais amplo e aprofundado de diversas culturas
que expressam os seus costumes e crenças através das melodias. Em outras palavras, é uma forma
de conhecimento de diferentes identidades.
Pois, ao mesmo tempo em que suportamos em nós múltiplas identidades, somos sempre
estrangeiros com relação a alguém ou alguma coisa. (PESAVENTO, 2005, p. 09)
A partir da música podemos nos expressar melhor, uma vez que ela nos acompanha desde
muito cedo criando vínculos e possibilitando que as pessoas se aproximem mais. No Brasil, ainda
é muito difícil encontrar escolas que trabalham a música em sua grade curricular, enquanto em
outros países ela é uma disciplina obrigatória. A ideia de que a música seja trabalhada na escola é
que ela possa oportunizar aos alunos o conhecimento das expressões de linguagem culturais,
aparecendo como uma forma de trabalhar também os gêneros textuais.
[...] a música deve ser considerada como um gênero textual e se deve levar em conta seu
aspecto híbrido, a letra e a melodia; não somente fazer uma leitura do seu caráter verbal,
mas procurar analisá-la a partir da interrelação dos seus meios de produção, a partir da
sua característica lítero-musical. Sendo assim, é importante trabalhá-la como um gênero
textual dentro da sala de aula, isto é, é preciso reconhecer a música como um gênero
textual autônomo, pois além da música possuir todos os elementos necessários para um
estudo de análise textual, ela também é um acervo de identidade nacional e se refere
muito à história sociocultural do nosso país. (SILVA; BORGES, 2013, p. 57-58)
Conforme vamos estudando sobre as diferenças regionais no nosso país, vamos nos
deparando com palavras e termos que antes não eram do nosso conhecimento. Na música, por
outro lado, podemos ver exemplos claros dessas variações de termos, por isso trabalhar com esse
recurso dentro da sala de aula torna-se importante, uma vez que a música pode expressar os
costumes de um determinado povo. Eventualmente poderão surgir casos em que os alunos não se
identifiquem com algumas frases que se originam de uma diferente região ao qual ele está e passe a
não compreender o seu significado, então cabe ao professor explicar as diferenças existentes nas
pronúncias das palavras e saber explicar as alternâncias frasais existentes em diferentes
comunidades de texto.
[...] embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional,
notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de
construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades
linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma
comunidade de fala. (BRASIL, 1998, p. 29)
Trabalhar a diversidade linguística dentro da disciplina de língua portuguesa a partir da
música é fundamental, uma vez que nela pode existir elementos textuais que trazem vários
sentidos, fator este que pode contribuir para os planejamentos de aula. Além disso, em nossa
turma, podemos incentivar mais ainda a leitura, possibilitando o aprimoramento de suas produções
textuais, elevando o conhecimento cultural que permeia nosso país.
Uma vez que, através da música, estudamos diferenças culturais, cabe ao professor prestar
todo o auxílio necessário aos alunos na buscar por tirar suas dúvidas. Dúvidas estas que se formam
durante as aulas por existir significativas variações de palavras dentro do tema abordado. Também
é fundamental que o professor adote métodos de fácil compressão, na explicação, sem promover o
preconceito linguístico, permitindo o contato do educando com diferentes formas linguísticas
ampliando seus conhecimentos.
Segundo a CETEB (2008), os professores não devem apontar erros cometidos por seus
alunos e sim, a partir disso, adaptar o conteúdo de modo que de acordo com o pensamento se torne
mais compreensível, possibilitando que por si mesmo, o aluno tenha interesse em fazer análise e
descobertas de suas intensões com o mundo físico.
Visto que a música reflete valores e costumes, utiliza-la na escola contribui para que o
aluno estude melhor a cultura ao qual ele está inserido. Quando existe um interesse comum dentro
[...] embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional,
notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de
construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades
linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma
comunidade de fala. (BRASIL, 1998, p. 29)
[...] a música deve ser considerada como um gênero textual e se deve levar em conta seu
aspecto híbrido, a letra e a melodia; não somente fazer uma leitura do seu caráter verbal,
mas procurar analisá-la a partir da inter-relação dos seus meios de produção, a partir da
sua característica lítero-musical. Sendo assim, é importante trabalhá-la como um gênero
textual dentro da sala de aula, isto é, é preciso reconhecer a música como um gênero
textual autônomo, pois além da música possuir todos os elementos necessários para um
estudo de análise textual, ela também é um acervo de identidade nacional e se refere
muito à história sociocultural do nosso país. (SILVA; BORGES, 2013, p. 57-58)
4
de uma determinada turma, ela é estimulada a aprender, principalmente quando ouve e estuda sons
que já fazem parte do seu dia a dia, no caso da música regional. Trabalhar a linguística na
perspectiva da música regionalista é uma maneira de ir além dos livros didáticos, pois é uma
metodologia inovadora e que, na maioria das vezes, vem de encontro aos interesses do aluno.
Utilizar a música regional passa a ser uma opção a mais de trabalho em aula, pois
proporciona ao aluno leituras de caráter interpretativo. Em contrapartida, as aulas se tornam mais
interativas, proporcionando mais debates. Resultado disso vem a ser a formação de cidadãos mais
críticos e conhecedores da literatura da sua região. Por tanto, utilizar a música como opção de
ensino dentro da disciplina de língua portuguesa é essencial.
3. METODOLOGIA
Como vimos anteriormente, os objetivos que levaram a escolha do tema deste trabalho foi
para incentivar a inclusão da música como forma de estudos para trabalhar a variação linguística,
presente em diferentes regiões do nosso país, em sala de aula. E a partir disso, ampliar os
conhecimentos da literatura regional, possibilitando uma aula mais interativa e dinâmica, que vai
ao encontro do interesse dos educandos.
O primeiro passo para elaborar este trabalho foi contextualizar o que pode ser feito para
incluir a música no plano de aprendizagem de aula e porquê é necessário incluí-la. Sendo uma
pesquisa de caráter qualitativo, de forma a verificar no corpus selecionado que, a diversidade
cultural linguística, presente nas músicas, pode levar a uma melhora no estuda da língua
portuguesa dentro das escolas.
Assim então, chegamos a conclusão que, através dos estudos feitos em letras de músicas
podemos reforçar as relações escritas e relações literárias regionais, levando em consideração suas
diferentes gramáticas. A partir da comparação de duas músicas ou mais de diferentes regiões
dentro do mesmo país, pode-se trabalhar diversos temas culturais e a variação linguística. Após
contextualizar como pode ser trabalhada a música dentro do ambiente escolar, passamos então a
comparação de dois textos musicais, ao qual apresentam durante sua escrita, termos significativos
que expõe de forma significante grandes diferenças tanto na forma verbal, quanto na forma escrita,
para que assim se faça o estudo pretendido.
O corpus de dados selecionados compõem-se de duas músicas: uma originada do Rio Grande
do Sul e outra do estado do Pernambuco. A música escolhida para representar o estado do Rio
Grande do Sul será “Tordilho Negro” do Grupo Os Serranos, que será comparada com a música
“Asa Branca” de Luiz Gonzaga que representará o estado do Pernambuco. A partir desta
comparação, busca-se analisar a variante dos termos existentes no texto.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir de agora iniciaremos a análise e comparação das músicas selecionadas
anteriormente, onde trabalharemos a diversidade linguística expressas nas letras de cada canção.
Como instrumento de análise, escolhemos duas músicas que são: a) música da região sul
(“Tordilho Negro” do Grupo Os Serranos); b) música da região norte (“Asa Branca” de Luiz
Gonzaga). Na análise, serão separadas da música algumas palavras que são usadas pela população
local, afim de explicar a variação linguística presente.
MÚSICA TORDILHO Os Serranos Correu notícia de um gaúcho lá na estância do paredão Era um domingo clareava o dia puxei o pingo e o Mais de uma légua o pingo corcoveou Boleei a perna Disponível <https://www.letras.mus.br/os-serranos/122732/> |
MÚISICA ASA Luiz Quando olhei a terra ardendo Quando olhei a terra ardendo Que braseiro, que fornaia Por farta d'água perdi meu gado Inté mesmo a asa Entonce eu Hoje longe, muitas légua Espero a chuva cair de novo Quando o verde dos teus olhos Eu te asseguro não chore não, viu Disponível |
Na primeira música, “Tordilho Negro” do Grupo Os Serranos, as palavras destacadas na
letra da canção apresentam gírias regionais, estas que podem usadas em diferentes culturas com
base na região grográfica do falante. Essas palavras podem ser substituídas por outras palvras, uma
vez que se trata de uma linguagem popular com termos temporários. A exemplo disso algumas
palavras em destaque como “pingo”, que pode ser entendido como “cavalo”; “traste”, pessoa sem
caráter; “prenda”, que pode ser entendido como a “esposa do gaúcho” ou um “objeto” que se pode
ser dado a alguém; e “berrarva/berrar”, que os gaúchos ou povo da região sul do Brasil pode
entender como “gritar” ou “falar alto”.
Já na segunda música, “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, pode-se destacar as palavras
“fornaia”, “entonce”, “vorta” e “inté”, onde “fornaia” na verdade representa a palavra “fornalha”.
Nestas palavras ocorrem variações lexicais devido a contextos geográficos (nesse caso o nordeste),
dialeto regional e até mesmo a linguagem informal. Essa variação ocorre quando o fonema “LH”
perde suas características, assim o falante substitui o fonema por uma vogal ou uma semi-vogal. O
mesmo acontece com a palavra “vorta” que vem da palavra “voltar” e “inté” que vem da palavra
“até”. Esse processo é chamado de “oitização”. Já no caso da palavra “entonce”, é originada do
idioma espanhol que significa “então”. Esse termo é mais utilizado pelos cearenses, sendo assim
uma palavra adepta, pois ela não vem do Brasil.
A diversidade linguística pode estar presente não apenas nas letras das músicas, mas
também pode ser encontrada no dia a dia das pessoas em diversos momentos do cotidiano. A ideia
de levar a música regional para dentros das salas de aula é justamente despertar no aluno o
interesse pelo conteúdo apresentado, de modo que ele possa participar das aulas podendo se
expressar através de seus costumes e sentir-se confiante sabendo que pode estudar uma disciplina
onde não existe o preconceito tanto de cosntumes como linguístico.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros curriculares
nacionais de língua portuguesa: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
CETEB. Áreas da Educação: construção do
conhecimento e teorias da aprendizagem na Educação Básica. Brasília,
Universidade Gama Filho, 2008.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras
culturais em um mundo planetário: paradoxos da(s) identidade(s)
sul-latino-americana(s). CESLA, Varsóvia, v. 8, 2005.
SILVA, Jéssica Carneiro da; BORGES, Carla Luiza
Carneiro. Da análise da música como gênero textual multimodal ao ensino de
língua portuguesa. Graduando, Feira de Santana, vol. 4, n. 6, 2013.
0 Comentários