1. Texto:

O Tempo

“O tempo passa? Não passa”,

diz o tempo.

“O tempo não passa,

quem passa somos nós.”

E o tempo fica olhando a gente

do alto do seu eterno presente.

— Mário Quintana

Pergunta:

O poema de Mário Quintana apresenta uma reflexão filosófica sobre o tempo, subvertendo a concepção de que ele é transitório. Ao atribuir voz ao tempo, o autor utiliza uma figura de linguagem que humaniza o abstrato, reforçando a ideia de que o verdadeiro agente da mudança é o ser humano. Com base nesse texto, analise as figuras de linguagem utilizadas, o valor semântico das orações subordinadas e a função da oração “do alto do seu eterno presente”.

2. Texto:

Poema de Sete Faces

“Quando eu nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra,

disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.”

— Carlos Drummond de Andrade

Pergunta:

O poema propõe uma visão existencial marcada pelo desajuste, sugerido já na figura do “anjo torto”. A escolha do termo “gauche” indica uma posição de desconforto diante das convenções sociais. Considerando os recursos poéticos utilizados e a construção sintática da oração subordinada temporal, analise o papel da imagem do anjo e o valor simbólico da missão atribuída ao eu lírico.

3. Texto:

A Casa

“Era uma casa

Muito engraçada

Não tinha teto

Não tinha nada

Ninguém podia

Morar nela, não

Porque na casa

Não tinha chão

Ninguém podia

Dormir na rede

Porque na casa

Não tinha parede

Ninguém podia

Fazer pipi

Porque pinico

Não tinha ali”

— Vinícius de Moraes

Pergunta:

Embora lúdico, o poema constrói uma cadeia de negações que criam o efeito de total ausência. Essa técnica estilística produz humor e estranhamento. Considerando a estrutura paralelística das orações, o valor semântico das orações iniciadas por “porque” e as figuras de linguagem empregadas, analise como o texto reforça a ideia de uma casa impossível.

4. Texto:

O Bicho

“Vi ontem um bicho

na imundície do pátio

catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

não examinava nem cheirava:

engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

não era um gato,

não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.”

— Manuel Bandeira

Pergunta:

O poema “O Bicho” faz uma denúncia social contundente ao retratar a degradação humana causada pela miséria. A descrição da cena evoca imagens visuais e sensoriais fortes. Analise o uso da metáfora no título, o valor da oração “Quando achava alguma coisa” e a progressão temática até a revelação final.

5. Texto:

Todas as cartas de amor são ridículas

“Todas as cartas de amor são

ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de

amor,

como as outras,

ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

têm de ser

ridículas.

Mas, afinal,

só as criaturas que nunca escreveram

cartas de amor

é que são

ridículas.”

— Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Pergunta:

Neste poema, a repetição insistente da palavra “ridículas” transforma um possível julgamento negativo em valorização da intensidade amorosa. Analise a construção anafórica, a inversão do valor semântico no final e o uso de orações subordinadas com valor condicional e adversativo.

6. Texto:

Morte e Vida Severina (fragmento do início)

“— O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.”

— João Cabral de Melo Neto

Pergunta:

Neste trecho da obra, o narrador apresenta seu nome e explica o contexto em que ele é comum. A repetição do nome “Severino” e do nome “Maria” enfatiza a ausência de identidade individual em meio à coletividade nordestina. Analise o uso da anáfora, o valor das orações subordinadas causais e como a estrutura reforça a crítica social.

7. Texto:

“Na sala, os móveis pareciam imóveis demais. A luz da tarde entrava pela janela com uma lentidão preguiçosa, como se soubesse que nada mais aconteceria naquele dia.”

— Trecho adaptado de crônica de Lygia Fagundes Telles

Pergunta:

O trecho apresenta uma atmosfera de inércia, sugerida tanto pelos elementos descritivos quanto pela figura de linguagem utilizada na personificação da luz. Analise a relação entre as orações adverbiais, especialmente a introdutória com “como se”, e o efeito estilístico da lentidão descrita.

8. Texto:

Bilhete

“Se você me ama,

ame-me quieto,

calado,

como a noite ama.

Sem dizer nada,

sem fazer alarde,

que o silêncio

é o som do amor mais profundo.”

— Mário Quintana

Pergunta:

O poema defende um amor discreto e silencioso. A construção “como a noite ama” introduz uma comparação poética que carrega subjetividade. Analise a figura de linguagem central, o valor da oração condicional “se você me ama” e a função expressiva do silêncio na construção temática.

9. Texto:

“A esperança é um urubu pintado de verde.”

— Millôr Fernandes

Pergunta:

A frase de Millôr, embora curta, condensa uma crítica irônica à ideia idealizada de esperança. Ao associá-la a um urubu, o autor quebra a imagem poética tradicional. Analise a figura de linguagem predominante, o valor simbólico dos elementos e o efeito da metáfora na desconstrução do conceito.

10. Texto:

“Tudo estava igual ao que era antes, nada se modificara. Apenas, no fundo da alma, permanecia a lembrança de um tempo impossível.”

— Trecho adaptado de Machado de Assis

Pergunta:

Neste fragmento, observa-se um contraste entre a imutabilidade externa e a persistência interna de uma memória afetiva. A oração “no fundo da alma, permanecia a lembrança de um tempo impossível” possui valor expressivo e indica uma permanência subjetiva. Analise as estruturas oracionais, o uso da adversidade em “apenas” e o papel da metáfora “no fundo da alma”.