Item 1. Leia o texto a seguir.

O peso da memória

Não sei bem por que, mas hoje acordei com vontade de mudar. Sabe aquela sensação de que algo está fora do lugar? Talvez fosse o controle remoto perdido, talvez fosse eu mesmo. Foi nesse clima de inquietação que liguei a TV e, entre uma manchete e outra, lá estava: “Exercício físico beneficia o cérebro”. Se é o cérebro que precisa de ajuda, por que não dar uma força?

Lucinha, pesquisadora de uma universidade brasileira, conseguiu algo impressionante: fez ratos subirem escadas com pesos presos à cauda. E não era apenas para ver o ratinho suar, não. Era para provar que a memória melhora com o esforço. Uma subida de cada vez, o rato ia e voltava, com miocinas e outros nomes complicados agitando o cérebro dele.

Olhei para os meus halteres abandonados no canto da sala. Não eram ratos, mas estavam lá, pesados e silenciosos. "Você nunca me usou direito", eles pareciam dizer. O toque da provocação foi certeiro. Lembrei-me das tantas vezes em que esqueci senhas, datas, aniversários. Se até os ratinhos têm mais disciplina que eu, alguma coisa precisava mudar.

A reportagem falava da neurogênese – palavra chique para dizer que o cérebro cria novos neurônios, especialmente no hipocampo, a região da memória. Os ratos subindo escadas inspiraram a ideia: “E se eu treinar o meu hipocampo?". Peguei os pesos e senti o ferro frio na mão. Não é o tipo de coisa que se faz todos os dias, mas ali estava eu, disposto a tentar.

"Vamos lá, cérebro, hora do treino”, pensei. De repente, me vi no futuro. Tá, eu sei que é clichê, mas me vi lá, velhinho, com os netos ao redor, chamando cada um pelo nome certo. Sem precisar de lembretes ou calendários. Todos os nomes na ponta da língua.

Se o rato consegue, por que eu não conseguiria? Senti a sensação de que o futuro começava ali, com o ferro gelado na mão e o peso nas costas tornando-se um pouco mais leve a cada repetição.

Na crônica, o efeito de sentido da expressão "Você nunca me usou direito”, no 3º parágrafo, evidencia

Item 2. Leia o texto a seguir.

Exercício físico em diferentes intensidades e modalidades traz benefícios significativos para o cérebro

Aumento dos casos de doenças neurodegenerativas reforça a importância de políticas públicas de incentivo ao exercício físico

Os benefícios da prática de atividades físicas à saúde já são um consenso na comunidade científica. Uma literatura científica extensa e diversificada aponta os ganhos físicos, mentais e sociais proporcionados pelos exercícios regulares. Recentemente, pesquisas realizadas na UFRGS lançaram mais luz sobre sua relação com o funcionamento cerebral, sobretudo em idosos e em pessoas com doenças neurodegenerativas.

Uma delas, realizada por Ana Karla Oliveira Leite, demonstrou que os exercícios de força são importantes não apenas para a manutenção física e a satisfação estética. Eles também atuam sobre outros processos, como os de cognição. Um dos frutos desse trabalho foi publicado recentemente por Ana Karla e um grupo de pesquisadores, entre eles sua orientadora, Angela Wyse, na revista Neuroscience. Com o objetivo de investigar se o exercício de força agudo poderia promover a consolidação de uma memória fraca, o artigo aborda a liberação de metabólitos e quimiocinas que, ao chegarem ao cérebro, estimulam a ativação dos receptores relacionadas à cognição e à plasticidade sináptica.

Personal trainer especializada em idosos, Ana Karla é graduada em Educação Física. Em seu mestrado em engenharia elétrica desenvolveu um método para estudar o padrão da marcha humana em diferentes ambientes gravitacionais. Já seu doutorado teve como foco os efeitos do exercício sobre a consolidação de memórias de medo e na neurogênese hipocampal. Atualmente, ela desenvolve pesquisa de pós-doutorado na UFRGS e estuda esses efeitos sobre diferentes aspectos cognitivos.

Exercícios de força têm o objetivo de aumentar o vigor muscular e a resistência física do corpo. Para isso, são combinados treinos com cargas elevadas, séries mais longas e repetições baixas. Ao refletir sobre as relações entre esse tipo de atividade e a memória, Ana Karla se deparou com muitos trabalhos na literatura que relacionam a questão aeróbica com o aspecto cognitivo. Percebeu, entretanto, uma lacuna sobre o que acontece na relação com o trabalho de força. Com esse intuito, desenvolveu seu projeto de doutorado. Um dos principais motivadores de sua pesquisa é compreender o que acontece no nível celular para, futuramente, abrir novas janelas terapêuticas. [...]

No texto, a motivação da pesquisadora Ana para o trabalho é apresentada quando

Leia o texto a seguir para responder aos itens 3 e 4.

O futebol das gurias

A gente se reunia fim da tarde, durante a semana, que era quando a maioria das gurias podia. Às vezes rolava também no sábado ou domingo. Naquele tempo não tinha celular pra combinar, era só no “boca a boca". Quando a gente se encontrava pelas ruas do bairro, já marcava a hora, e as gurias iam se avisando. Era o auge da nossa semana, o nosso momento. Bah, era bom demais! Futebol de campo, na grama, no salão, na areia, era onde dava, sabe?

- O futebol foi criado no século XVII, na Inglaterra, e é o esporte mais praticado no mundo.

É, mas na década de 1990, no tempo em que eu jogava com as gurias, o futebol feminino não era muito falado, não!

O futebol já foi proibido para as mulheres no Brasil por 40 anos, por ser considerado incompatível com as condições da natureza feminina, e apenas em 1979 teve a proibição revogada.

Sim, sim. A gente ainda sentia na pele o preconceito de quem passava por nós: “vão lavar uma louça", "perna de pau", eram coisas que os “boca aberta" diziam sem nem mesmo ver o nosso jogo. A Valdirene, que era meio esquentadinha, às vezes partia pro bate-boca com a gurizada. Mas ninguém ficava muito “atucanada”, não, ignorávamos e focávamos no jogo; a gente gostava muito! Era futebol de várzea, mesmo assim estávamos jogando "tri bem". Depois de algum tempo, conseguimos inclusive um treinador.

O Jairo adorava futebol e quis treinar a gente. Até conseguiu algumas camisetas dos guris emprestadas pra nós. E quando os guris não estavam jogando, também podíamos usar o campo! Jairo confiava e dizia que tínhamos futuro. Depois dos treinos, ficávamos em roda, tomando nosso "chimas" e sonhando... Será que poderíamos ser jogadoras profissionais? Quem sabe um dia estaríamos na seleção brasileira de futebol feminino?! [...]

Item 3. Na crônica, a repetição da expressão “A gente" tem o efeito de sentido de, principalmente,

Item 4. Na crônica, o efeito de sentido produzido pela repetição da palavra "gurias” indica, principalmente,

Item 5. Leia o texto a seguir.

Documentário premiado “Anhangabaú” estreia na Sala Redenção com bate-papo

A sessão ocorre nesta quinta, dia 12, às 19h, e integra a programação do “Ciclo Documentários”

Nesta quinta-feira, dia 12, às 19h, o documentário "Anhangabaú" estreia em Porto Alegre. Vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival de Cinema de Gramado em 2023, o filme retrata disputas territoriais da cidade de São Paulo. A exibição na Sala Redenção conta com bate-papo com parte da equipe que realizou o filme. A conversa sobre o processo de produção do longa-metragem terá mediação de integrantes do Clube de Cinema de Porto Alegre.

"Anhangabaú” retrata o direito à cidade e à moradia, a partir da perspectiva de três diferentes movimentos sociais da cidade de São Paulo. Ao longo de seus 88 minutos, o documentário tece conexões entre conflitos territoriais da comunidade indígena Mbyá-Guarani, a ocupação artística da Ouvidor 63 e o legado do Teatro Oficina Uzyna Uzona. O longa se baseia no conceito de "Cidade Polifônica", uma cidade que só pode ser compreendida através da sobreposição de acontecimentos paralelos, e reflete sobre as construções simbólicas de uma metrópole em disputa.

A entrada é franca, e a Sala Redenção está localizada no Campus Centro da UFRGS, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333. A exibição marca o encerramento do “Ciclo Documentários”, realizado pela Sala Redenção em parceria com o Clube de Cinema de Porto Alegre ao longo de 2024.

Apesar de rodado em São Paulo, o filme conta com uma equipe composta majoritariamente por gaúchos: com direção de Lufe Bollini; direção de fotografia de Rafael Avancini; e roteiro de André Luís Garcia. A produção do longa é da Elixir Entretenimento, Kinocobra Filmes e Fogo no Olho Filmes.

Com base no texto, infere-se que o tema principal abordado no documentário refere-se

Item 6. Leia o texto a seguir.

O futebol das gurias

[...]

A primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino ocorreu oficialmente em 1991 na China.

Tchê, esse evento foi inspirador pra nós! Sabíamos que jogar em uma copa era um sonho difícil de se realizar, mas nós começamos a competir em pequenos torneios. Íamos de Kombi em várias cidades no Rio Grande do Sul mesmo. Competimos em Canoas, Porto Alegre, Maquiné, Tramandaí, Osório, Capão, Morro Alto, e também aqui mesmo, em Santo Antônio da Patrulha. Depois da Copa de Futebol Feminino, começou uma "febre”, quase todo fim de semana tinha algum torneio. A gente jogava sério, e sempre ansiosas porque nos jogos poderia ter olheiros, vai que nos convidavam [sic]* pra fazer um "peneirão”?

Nas segundas-feiras, estavam todas "esgualepadas", quebradas, engessadas e mancas. Mas sempre valia a pena, ganhamos muitos campeonatos de futebol feminino.

A premiação no Campeonato de Futebol Brasileiro Feminino em 2024 teve valor recorde, sendo entregue à equipe vencedora o valor de um milhão e meio de reais.

As nossas premiações não eram em dinheiro não, tchê! A gente ganhava ovos, engradados de cerveja, salame, queijos, galinhas, porco, e uma vez ganhamos até uma ovelha. Tivemos que voltar pra buscar depois da competição porque não coube na Kombi junto com todas as gurias. Nesse dia o radialista nos chamou pra falar na rádio da cidade. Fomos a Sônia e eu - achamos o máximo!

Desculpe, não posso ajudar, não sei nada sobre isso.

Bah, Alexa, bem capaz que tu ias saber, mas tá bom, já vi que hoje tu tá de poucas palavras. Outro dia eu te conto um pouco mais sobre as nossas aventuras e do nosso futebol de várzea. Agora toca uma música bem animada enquanto eu faço um chimarrão, que fiquei empolgada ao lembrar dos velhos tempos.

(...) Tocando "Eu sou do Sul"...

O texto "O Futebol das Gurias" apresenta, principalmente, como tema central

Item 7. Leia o texto a seguir.

Meus Oito Anos

Oh! que saudades que eu tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

Respira a alma inocência,

Como perfumes a flor;

O mar é - lago sereno,

O céu um manto azulado,

O mundo um sonho dourado,

A vida um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia,

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a Lua beijando o mar! [...]

A ideia principal desenvolvida no poema está relacionada à

Leia o texto a seguir para responder aos itens 8 e 9.

A sombra da corveta

A velha e gloriosa corveta que pena! - já nem sequer lembrava o mesmo navio d'outrora, sugestivamente pitoresco, idealmente festivo, como uma galera de lenda, branca e leve no mar alto, grimpando serena o corcovo das ondas! Estava outra, muito outra, com o seu casco negro, com as suas velas encardidas de mofo, sem aquele esplèndido aspecto guerreiro que entusiasmava a gente nos bons tempos de “patescaria”. Vista ao longe, na infinita extensão azul, dir-se-ia, agora, a sombra fantástica de um barco aventureiro. Toda ela mudada, a velha carcaça flutuante, desde a brancura límpida e triunfal das velas até a primitiva pintura do bojo.

No entanto, ela aí vinha – esquife agourento singrando as águas da pátria, quase lúgubre na sua marcha vagarosa. Ela aí vinha, não já como uma enorme garça branca flechando a líquida planície, mas lenta, pesada, como se fora um grande morce-go apocalíptico de asas abertas sobre o mar...

Havia pouco entrara na região das calmarias: o pano começava a bater frouxo, mole, inchando a cada solavanco, para recair depois, com uma pancada surda e igual, no mesmo abandono sonolento. A viagem tornava-se monótona; a larga superfície do oceano estendia-se muito polida e imóvel sob a irradiação meridional do sol, e a corveta deslizava apenas, tão de leve, tão de leve, que mal se lhe percebia o movimento.

Nem sinal de vela na linha azul do horizonte, indício algum de criatura humana fora daquele estreito convés: água, somente água em derredor, como se o mundo houvesse desaparecido num dilúvio medonho... E, no alto, lá em cima, o silêncio infinito das esferas obumbradas pela chuva de ouro do dia. [...]

Item 8. No último parágrafo, no trecho "Nem sinal de vela na linha azul do horizonte, indício algum de criatura humana fora daquele estreito convés”, o narrador sugere uma situação de

Item 9. No fragmento do romance, o narrador, ao descrever a corveta, infere principalmente que a embarcação

Item 10. Leia o texto a seguir.

Cap. I

Capanga

Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarnado das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém-aberta ali com os orvalhos da noite. No fresco sorriso dos lábios, como nos olhos límpidos e brilhantes, brotava-lhes a seiva d'alma.

Ela, pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, saltitava sobre a relva, gárrula e cintilante do prazer de pular e correr; saciando-se na delícia inefável de se difundir pela criação e sentir-se flor no regaço daquela natureza luxuriante. Ele, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, calcando o chão sob o grosseiro soco da bota com a bizarria de um príncipe que pisa as ricas alfombras, seguia de perto a gentil companheira, que folgava pelo campo, a volutear e fazendo-lhe mil negaças, como a borboleta que zomba dos esforços inúteis da criança para a colher.

Caminhavam por uma recha, bordada de ilhas de mato, que emergiam aqui e ali do verde gramado. Pela ramagem frondente das árvores e renovos que abrolhavam, percebia-se a proximidade de uma grande manancial, e entre as crepitações da brisa nas folhas, como um tom opaco desse arpejo da solidão, ouvia-se o murmure soturno do Piracicaba, que leva ao Tietê o tributo caudal de suas águas.

Sete horas da manhã haviam de ser. A luz de um sol esplèndido fluía no éter, que a trovoada da véspera tinha acendrado. O céu arreava-se do azul diáfano onde a fantasia se embebe com a voluptuosidade casta da criança a aconchegar-se dentro, tão dentro do grêmio materno.

Bem longe do céu, porém, e bem presos à terra, andavam os olhos dos nossos dois amiguinhos, que nem haviam reparado sequer na limpidez da atmosfera. Ainda estavam na sazão feliz, em que respira o céu, como o ar da vida, e o aroma do campo, quase sem sentir. [...]

No fragmento do romance, a relação entre as características das personagens e os elementos da natureza revela uma cena de